WORLD JOURNAL OF ORTHODONTICS – VOLUME 9 – NÚMERO 2 – 2008
RESUMOS E REVISÕES
Editor: Ahmet Keles, DDS, DMSc
Wilma Simões (Ed) São Paulo, Brasil, Artes Médicas, 3ª Edição, 2003 (Português), 1028 pgs.; 4ª Edição, 2004
(espanhol), em impressão (italiano), 1032pgs. (Revisão da edição em espanhol)
A terceira edição em dois volumes desse livro, publicado pela última vez em 1989, foi significativamente revisada. Muitos capítulos foram acrescentados e\ou ampliados e novos colaboradores incluídos. A Dra. Wilma Simões deu indicações de que uma continuação desses dois volumes ocorrerá em breve, em formato de livro cefalométrico.
Na introdução a Dra. Simões descreve as origens da tremenda variação anatômica na dentição e aparato muscular. Ela explica que dentição é uma entidade dinâmica e, portanto, se modifica ao longo do tempo em consequência de crescimento, perturbações ambientais, restaurações dentárias, patologias orais e envelhecimento.
Apresenta evidência em apoio da hipótese de que o processo evolutivo reduziu o tamanho dos dentes e musculatura, assim como afetou a anatomia e função das articulações temporomandibulares. O prognatismo dento-alveolar também tem diminuído e arcadas dentárias e dentes não são mais os mesmos de centenas de milhares de anos atrás, devido em grande parte a gradual transição do estilo de vida humano. A dentição herda características fenotípicas em graus variáveis em razão das interações entre vários genes e seus ambientes, isto é, a herança poligenética, e está longe de ser completamente entendida. Segue-se uma detalhada descrição da dentição aborígene australiana, além de uma listagem de possíveis causas para as mudanças morfológicas em dentes e arcadas dentárias aborígenes, que resultaram em novos padrões de movimentos protrusivos, oclusão dental, dimensões dentais e desgaste da superfície. Crianças aborígenes em geral não tem dentições com falta de espaço para dentes permanentes, talvez devido a um forte componente nos movimentos protrusivos que gera protrusão bimaxilar dento-alveolar, além da bem conhecida reabsorção óssea na superfície interna do ramo mandibular. (Contribuição do Dr. T. Brown).
A Dra. Simões então explica os princípios fundamentais da “Ortopedia Funcional dos Maxilares” (OFM) e as características especificas que a distinguem da Ortodontia. Ela acredita que a OFM é um campo extenso e deve ser considerada uma especialidade na Odontologia, não uma subespecialidade da Ortodontia, como é classificada hoje no Brasil. Ela resume: “A OFM é uma especialidade que diagnostica, previne, controla e trata as anormalidades do crescimento e desenvolvimento das arcadas dentárias e bases dento-alveolares.” Na verdade, explica Simões, a OFM deve ser considerada um campo da odontologia com o objetivo de remover interferências indesejadas durante o crescimento e desenvolvimento (tanto durante o período ontogenético quanto durante o pós-ontogenético) do sistema estomatognático para obter-se oclusão, estética e função ideais. Isso é comum a ambas as especialidades, entretanto, a OFM enfatiza diagnóstico específico, parâmetros de ancoragem, métodos de exame clinico e outras exigências técnicas completamente diferentes baseadas em determinantes neurofisiológicos chaves. A relação harmoniosa entre todos os componentes do sistema estomatognático contribui para a criação de um aparato mastigatório e digestivo eficiente e, portanto, para o bem estar geral.
A OFM utiliza quatro forças naturais: (1) crescimento e desenvlovimento; (2) erupção dentária; (3) postura e movimentos da lingua, e (4) postura e movimentos mandibulares. Os dispositivos prescritos pela OFM tem impacto sobre o sistema neuromuscular em torno da dentição, induzindo a remodelagem e correção da mal-oclusão quando possível. Esse livro contem informação e descreve a abordagem dos autores para questões como equipamentos funcionais que melhoram o crescimento mandibular, e os músculos pterigoides laterais que podem causar desordens temporomandibulares.
Descreve-se a Reabilitação Neuro-oclusal, que visa prevenir e tratar interferências oclusais deletérias. Uma reabilitação oclusal bem feita equilibrará as forças fisiológicas do crescimento e desenvolvimento geral do complexo crânio-facial, forças de erupção da dentição, postura da cabeça, posição da língua e movimentos mandibulares.
A OFM tem três princípios fundamentais: (1) estimulo neural (que atua na tonicidade muscular e remodelagem óssea); (2) mudança postural (equilíbrio muscular ideal, necessário para obter-se contração isométrica de todas as fibras musculares em oposição no momento); e, (3) relação incisal ideal (ângulo interincisal, (overjet) e (overbite) dentro das normas) para mudança terapêutica da postura da língua e para obter-se resultados ideais no menor período de tempo possível.
Os capítulos seguintes explicam a fisiologia da mastigação, o crescimento e desenvolvimento do complexo crânio-facial, bem como do corpo em geral; fatores chaves para um diagnostico correto; técnicas para o diagnostico sintomático de Planas; algumas técnicas laboratoriais, métodos de planejamento do tratamento; exemplos de casos tratados; e dois capítulos finais sobre halitose e dor orofacial. É interessante aprender os aspectos filogenéticos e ontogenéticos da mastigação. As leis de Planas são descritas em detalhe, incluindo as bases embriológicas de sua existência em um capitulo do Dr. F. Macedo. O tratamento de anormalidades do crescimento é também ilustrado pela contribuição de A. Teran, com apresentação de casos de pacientes com microsomia hemifacial e lábio e palato fendidos tratados com OFM.
A análise cefalométrica de Bimler é explicada por A.R. Almeida de maneira clara, e mensurações codificadas por cor facilitam ainda mais o entendimento. A análise cefalométrica do perímetro articular é descrita como uma forma válida para quantificar proporções mandibulares e diagnosticar uma tendência para mordidas esqueletais abertas. Análise cefalométrica por perímetro articular é extremamente importante antes da fabricação de dispositivos que modificam a postura mandibular. A análise panorâmica simétrica de Simões é um método pelo qual se obtém medidas lineares e angulares do terço inferior da face para avaliar a simetria.
O capitulo sobre fabricação de dispositivos não apenas descreve projetos de dispositivos em detalhe, mas também sua biomecânica. Esse não é apenas um capitulo técnico para ensinar como os fios devem ser inclinados e como o acrílico deve ser acrescentado. É, na verdade, um capitulo para o clínico e o técnico de laboratório, que precisam saber e entender cada componente do dispositivo e sua função. Finalmente, 50 casos antes e depois do tratamento exclusivamente com OFM são relatados. Os registros são completos e em grande quantidade. É uma excelente maneira de concluir a introdução da OFM como um novo campo na odontologia.
Nanci de Felippe.