Rearmonizando o corpo e a mente

por Aparecida Carvalho Clinic

jul 9, 2017

Dentista

Ainda desconhecido no Brasil, o Rolf – um sistema de educação corporal realizado por meio de manipulação física – tem-se difundido rapidamente no mundo, baseado na comprovante eficácia das teorias da americana Ida Rolf sobre a plasticidade e mutabilidade do corpo humano. O artigo a seguir expõe com mais detalhamento o funcionamento desta revolucionaria técnica.

Por Nilson Coutinho

O rolfing é o produto do trabalho e da pesquisa desenvolvida pela doutora americana Ida Rolf (PhD em bioquímica pela Universidade de Columbia), na tentativa de tratar um filho cujos movimentos estavam restringidos devido a sequelas de um acidente que sofrera . Baseando-se em seus conhecimentos de bioquímica, ioga, homeopatia e osteopatia, Ida Rolf descobriu que o corpo é plástico e passível de mudanças. Quando, durante a década de 60, ela avizinhou-se às mais modernas tendências da psicologia, através de seu trabalho no Instituto Esalen (na Califórnia), o Rolf assumiu a forma que tem hoje. Ida Rolf faleceu em 1979, mas seu trabalho continua sendo desenvolvido por seus discípulos.

É difícil explicar o que é o Rolf para quem nunca se submeteu ao processo ou teve algum contato com ele. Encruzilhada de muitos caminhos, quanto mais se aprofunda, mais portas se abrem, englobando diversas áreas do conhecimento humano.

O Rolf pode ser definido como um sistema de educação corporal feito através de uma manipulação física. Seu objetivo é organizar o corpo humano em relação à força da gravidade através de um trabalho sobre o tecido conjuntivo – mas especificadamente, sobre a fáscia, a lâmina fibrosa que envolve cada músculo e fibra muscular, mantendo-os em posição.

A fáscia era considerada pela doutora Rolf como o órgão de suporte do corpo; mas como essa lâmpada mantém qualquer padrão de postura e movimento que o corpo desenvolve, ela determina a forma dos músculos que, por sua vez condicionam o funcionamento das articulações. Ida Rolf descobriu então que a composição química deste tecido sofre alteração de gel para o sol (duas espécies de colóides) sob a força e o calor, isso o torna mais flexível e possibilita uma mudança na forma dos músculos. Assim, o funcionamento das articulações é influenciado, permitindo a reorganização de todos os blocos do corpo em relação à força da gravidade.

Sentindo que o corpo e a mente eram um todo, Ida Rolf dizia também que as articulações mostravam o amadurecimento da pessoa. Os desarranjos estruturais que atingem a maioria das pessoas de qualquer idade ou classe social ocorrem por diversas razões: traumas psicológicos ocorridos na infância, conflitos emocionais não resolvidos na adolescência, acidentes, ou mesmo um meio ambiente que não facilita o desenvolvimento da postura ereta – a meta evolucionária do ser humano. O bebê não nasce com uma organização estrutural, mas com um potencial a ser desenvolvido. Graças á sua plasticidade, o corpo pode organizar-se em praticamente qualquer idade.

A gravidade, que é a maior condicionadora do corpo, nos acompanha da concepção à morte – e, em geral, não temos consciência dela. Ida Rolf dizia que os efeitos do Rolf continuavam por toda a vida, por que, após o processo, a gravidade se tornava a terapeuta. Ela, porém, fazia uma advertência: sendo a gravidade um campo de força infinitamente maior do que o homem, este não pode concorrer com ela. Se o fizer, sua estrutura ficará comprometida.

A ESTRUTURA DO CORPO

A desorganização do corpo não se dá num ponto específico, mas em sua totalidade. Isso ocorre em virtude da ação da gravidade, que espalha qualquer desvio pelo resto do organismo, e também por que o tecido conjuntivo recobre todo o corpo como uma rede. Uma cicatriz, por exemplo, pode repuxar tecidos de modo a comprometer outras partes distantes.

Da mesma forma, a manipulação feita pelo rolfista em uma parte especifica do corpo irá atingir e influenciar o corpo como um todo; aborda-se o corpo como uma totalidade, buscando sua integração. O corpo verdadeiramente livre pressupõe uma organização que deve acontecer ao redor de um eixo – a sua linha central de gravidade, que Ida Rolf chamou de “Linha Rolf” ou “Core”. Permite-se, assim, que a relação: agonista-antagonista (*) dos músculos funcione adequadamente, entendendo-se que a boa postura não é estática, mas um equilíbrio dinâmico.

* – Agonista é o músculo em contração, interessado no movimento de uma área; Antagonista é o músculo que age de maneira contrária.

A busca desse padrão organizado é o que diferencia o Rolf dos outros tipos de trabalho corporal, que buscam simplesmente soltar e relaxar. O padrão buscado não é um a que todos os corpos devam adaptar-se. Muito pelo contrário: cada corpo encontrará a própria forma segundo suas particularidades anatômicas, como a proporção entre o tronco e os membros. É fácil visualizar esse eixo: ele é obtido por um alongamento vertical do corpo, que se traduz por um alinhamento das articulações. Olhando-se o corpo lateralmente, teríamos a orelha, o ombro, o quadril, o joelho e o tornozelo em uma só linha. Esta é uma imagem estática, mas sempre temos que ter em mente o equilíbrio dinâmico. O movimento, portanto, deve ser fácil e sem esforço. O peso do corpo estaria nos pés com a superfície bem distribuída no solo e não em bloco suspensos pelo resto do corpo. Assim, a força da gravidade flui através dele, criando uma sensação de verticalidade, acompanhado de um sentimento de bem–estar e aumento de vitalidade.

O CORPO E A MENTE COMO UNIDADE

A base filosófica do Rolf é o monismo, que entende o corpo e a mente como unidade. A doutora Rolf declarava que o corpo é a personalidade do individuo, o que é diferente de se dizer que a mente interfere com o corpo. É difícil entender esse ponto de vista, acostumados como estamos a pensar em termos dualísticos. Em verdade, a separação facilita a compreensão, mas quando falamos do ser humano não devemos esquecer que a realidade última do fenômeno corpo-mente é a totalidade.

Segundo um dos postulados do Rolf, a função e a forma são duas faces da mesma moeda. Isso é verdade tanto do ponto de vista cinético (por que a forma do músculo determina a sua função) quanto de uma perspectiva mais ampla, pois a forma do corpo representa a maneira da pessoa organizar-se no mundo, como ela é. Em outras palavras, a forma do corpo tem uma função particular, e cada forma cria um tipo específico de personalidade. Essa tipologia de caráter é determinada pelos valores culturais e por todo um processo histórico, econômico e social. Histórico no sentido não só da história pessoal do individuo, mas também de como o processo histórico interferiu nesse individuo.

O processo Rolf é feito através de dez sessões individuais, que duram em média, uma hora. Antes do inicio e após cada sessão tiram-se fotografias do cliente, que servem como acompanhamento do processo.

Usa-se também um espelho, para que o cliente possa conhecer os desvios estruturais do ponto de vista do Rolf. Muitos sentem-se mal nesse momento, por que é difícil nos aceitarmos como somos. No entanto, este conhecimento é fundamental para que possamos evoluir.

Embora a manipulação possa ser um pouco dolorosa, a dor cessa instantaneamente ao final do toque. O grande desafio está nos sentimentos e nas sensações que inevitalvemente ocorrem durante o processo, por que o encontro consigo mesmo é sempre difícil. Algumas situações dolorosas podem ocorrer: a lembrança de acontecimentos marcantes; o medo e a insegurança; a tristeza e a depressão. Às vezes, uma raiva antiga e bem guardada explode, mas outras vezes a pessoa sente-se invadida por um sentimento de paz. O processo de Rolf é um ciclo que se completa e todas essas diferentes experiências são absorvidas e organizadas ao final da série.

EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO

As dez sessões seguem o que os rolfistas, chamam de “receita”, ou seja, um mapa do trabalho que obedece a uma lógica anatômica e energética. Embora seja um mapa, varia de acordo com cada corpo, seguindo as necessidades que surgem em cada situação pessoal. A “receita” é de uma lógica anatômica impressionante. Após uma sessão, o corpo parece estar pronto para a próxima; e cada sessão se encaixa perfeitamente na seguinte.

À primeira vista, uma intervenção a esse nível pode parecer autoritária, mas não é; o rolfista é treinado para trabalhar no primeiro nível de resistência, nunca violentando a pessoa. Ele abre o caminho gradualmente, aprofundando a cada sessão o nível do tecido trabalhado, respeitando sempre o ritmo de mudança. A pessoa é levada a conhecer seus limites, mas dentro do seu nível de tolerância naquele momento.

A verdade é que só muda quem quer, e o grau depende do quanto à pessoa participa, da energia que coloca no seu processo e também do seu estado, da sua saúde, do seu conhecimento, etc. O poder do rolfista é limitado, mas em nossa experiência pessoal jamais conhecemos alguém que passasse incólume pelo processo.

Queremos, com estas colocações, situar o rolfista para evitar mistificação do processo, que, embora seja de certa maneira “mágico”, é real e, portanto, limitado.

Partindo do princípio do Rolf, outra técnica foi desenvolvida: a integração funcional pelo movimento Rolf (“rolfing movement integration”). Como próprio nome diz, trata-se de uma abordagem através de movimentos e manipulações suaves, objetivando, porém atingir não só a musculatura superficial, mas também as mais profundas. Este trabalho surgiu quando a drª. Ida Rolf sentiu que os clientes obtinham mais espaço e em termos estruturais estavam melhor integrados, mas não conseguiam fazer uso desses benefícios. Então, ela e outros colaboradores sistematizaram um trabalho funcional por ela denominado “rolfing movement integration”.

Assim, o Rolf e o rolfing movement integration são trabalhos complementares, apesar de cada processo poder seguir independentemente.

Na medida em que procura organizar as estruturas, o Rolf pode ser considerado um trabalho de base no corpo humano. Não é uma técnica médica (como a quiroprática, a osteopatia e a acupuntura) e não visa a cura de sintomas, embora a melhora na organização estrutural, por vezes, combata as causas de algumas doenças, provocando uma melhora da vitalidade. O Rolf é contra-indicado para pessoas com doenças em estado avançado.

As metas básicas do Rolf são a integração e o equilíbrio. A integração que se busca não é só a nível funcional, mas também, e principalmente, de corpo e mente, visando ao crescimento da pessoa como um todo.

Quando “rolfamos”, procuramos ajudar as pessoas a serem mais livres, sensíveis, saudáveis e conscientes. Tudo isso, é claro, dentro dos limites impostos pela nossa realidade de hoje. Dentro dos limites do real.

O EIXO DO CORPO ORGANIZADO

Um dos pontos fundamentais da teoria de Ida Rolf, a “linha do Rolf”. – a linha central de gravidade do corpo – é aqui explicada por Tereza S.Ohashi especialista de integração pelo movimento (técnica originária do Rolf).

A “linha do Rolf” ou “Core” é o eixo central, vital para um corpo harmônico e organizado com a gravidade. Ela passa através do centro do corpo, da coroa da cabeça, percorre a frente da coluna e segue pela face interna das pernas até os arcos dos pés.

Fisicamente, a linha do Rolf é composta de uma rede de músculos profundos próximos ao eixo central. À medida que aprendermos a nos mover partindo destes músculos profundos, frequentemente em desuso em um corpo não ciente, liberamos a tensão da musculatura externa. Dessa forma, nos tornamos fisicamente mais centralizados.

A experiência da linha do Rolf pode ser explorada através de várias imagens. Pode ser vista como um canal para a força da gravidade, movendo-se para baixo e para cima, nos sedimentando através das solas dos pés e favorecendo a ação de suspensão, o que dá uma sensação de leveza.

Pode ser sentida também como parte de um círculo tão grande que nossa porção pequena parece uma reta. Este círculo também passa através do centro da Terra, ligando-nos ao nosso campo gravitacional.

A experiência da linha Rolf é facilmente sentida na horizontal, imaginado-se uma luz que se dirige da cabeça aos pés. Acompanhando a luz, a respiração forma uma cadeia ondulatória suave como resposta ao próprio processo respiratório.

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