Fonte: Jornal O Estado do Maranhão – 23.06.2013
Você já sentiu dor na cabeça, no dente, no pescoço, próximo ao ouvido, sensibilidade nas articulações mandibulares, mas não conseguiu identificar as causas?
Você não está sozinho nessa. Muitas pessoas sentem, costumeiramente, esses tipos de dores e acham que pode ser normal, um incômodo casual. Mas o assunto é mais sério do que se possa imaginar e merece atenção.
Trata-se das Dores Orofaciais, aquelas que estão relacionadas a dores ou desconforto na face e na região bucal. Dentre elas, a Disfunção Temporomandibular ou simplesmente DTM, que é causada geralmente pelo uso irregular dos músculos faciais, das articulações temporomandibulares e de toda a estrutura que compreende a boca, a face e o pescoço.
Apesar dos nomes complexos, o reconhecimento é simples. Se você colocar os seus dedos indicadores bem à frente dos ouvidos, ao abrir e fechar a boca poderá perceber o movimento das articulações temporomandibulares de cada lado da face. Devido à mobilidade dessas articulações, a mandíbula se movimenta suavemente para cima e para baixo, permitindo que se fale, boceje e mastigue normalmente. Quem controla estes movimentos e posições são os músculos da mastigação, auxiliados pelos outros músculos faciais e cervicais, ligados à mandíbula e ao crânio. O esforço repetitivo e de forma errada dessas articulações é o principal causador da DTM.
Isto acontece porque na parte superior da mandíbula existe bilateralmente a cabeça da mandíbula ou côndilos mandibulares que ao abrirmos a boca se deslocam dentro da cavidade articular na lateral do crânio, e quando fechamos a boca eles retornam às suas posições iniciais. Esses são movimentos contínuos e rotineiros em todos os seres humanos.
Mas, para permitir este movimento suave na estrutura mandibular, durante os movimentos de abertura e fechamento da boca, é necessária a presença de um disco cartilaginoso, flexível, que fica sobre a cabeça da mandíbula. Ele é responsável por facilitar o deslocamento da cabeça da mandíbula no tubérculo articular, amortecendo o atrito entre as duas superfícies quando mastigamos ou realizamos qualquer outro movimento mandibular. O bom estado do disco reflete diretamente no bom funcionamento da articulação. Portanto, qualquer problema, que interfira na atuação desse complexo sistema de músculos, disco, ligamentos e ossos, poderá resultar em uma DTM.
A reação mais comum a essas disfunções são dores de cabeça, tonturas, zumbido, dores próximas do ouvido, dores cervicais, dificuldade de abrir a boca e de mastigar.
Exatamente por isso, as pessoas costumam procurar profissionais ligados a esses sintomas, como neurologistas, otorrinolaringologistas, especialistas em cabeça e pescoço, entre outros. Mas o que muita gente não sabe é que esses problemas podem ser resolvidos por meio de uma equipe multidisciplinar que, na maioria das vezes, se inicia com uma visita a um dentista especialista em Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular.
A cirurgiã-dentista Aparecida Carvalho, especialista em DTM e Dor Orofacial, afirma que as causas da DTM são oriundas também de hábitos errôneos das pessoas. “Entre os fatores predisponentes da DTM, estão os hábitos parafuncionais como: roer unha, mastigar chicletes, mastigar de um lado só, morder caneta ou lápis; associados com o estresse que nos leva a realizar o bruxismo, hábito de ranger ou apertar os dentes, muitas vezes sem que se perceba. Outro fator predisponente é a posição postural inadequada, por exemplo: apoiar a mão no queixo enquanto se estuda ou trabalha, dormir em rede, ler deitado com a barriga para baixo, posição incorreta de ficar no sofá vendo TV, entre outras”, conta.
Exatamente por essa diversidade de causas, a DTM deve ser tratada por uma equipe multidisciplinar. “Os dentistas cuidam dos problemas ligados aos dentes que se relacionam através da oclusão ao crânio e este à cervical e, portanto, a toda a coluna vertebral. Os fisioterapeutas corrigem a relação crânio-cervical e a postura, orientando o paciente sobre os hábitos posturais incorretos e os alongamentos necessários. Os fonoaudiólogos interveem na postura, tonicidade da língua e dos músculos da face, pois a posição incorreta de tais estruturas musculares, interfere no movimento mandibular, na posição da mandíbula e esta se relaciona ao crânio e à coluna cervical. Como coadjuvante ao tratamento, a terapia corporal, através da massagem, proporciona um efeito semelhante ao analgésico nas dores musculares. O método Rolf, também utilizado, atua na liberação miofascial, e na integração de todas as estruturas corporais, contribuindo para melhora da postura do paciente. Como o fator psicossocial muitas vezes está envolvido, pode ser necessário também o acompanhamento psicológico”, assegura a especialista.
IDENTIFICANDO E TRATANDO A DTM
Para identificação da patologia é necessário a consulta inicial, o exame clínico, e solicitados os exames de Rx, que são importantes para o diagnóstico, utilizados pelos dentistas e fisioterapeutas.
“Realizamos primeiramente uma conversa com o paciente a fim de entendermos o histórico, seguida do exame físico, da avaliação da dinâmica mandibular e dos pontos de dor na face, na cabeça e na cervical. O diagnóstico é complementado pelos exames radiográficos: tomografia e ressonância quando necessário”, relata a cirurgiã-dentista.
O tratamento conservador e pouco invasivo é sempre a primeira escolha. “Optamos por cuidados terapêuticos de acordo com o diagnóstico, que pode ser a utilização de aparelhos orais, laserterapia, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia corporal”. Além das intervenções clínicas, a cirurgiã-dentista afirma que a educação e a conscientização do paciente acerca de seu problema são iniciativas extremamente importantes, por isso técnicas comportamental-cognitivas são ferramentas a mais no tratamento, funcionam como apoio ao tratamento, tornando indispensável, em alguns casos, o acompanhamento psicológico.
“Quando necessário encaminhamos para médico especialista em dor, neurologista, otorrinolaringologista, reumatologista, pois dores relacionadas a outras causas, como dores de cabeça, coluna, ossos, etc., com os sintomas parecidos aos da DTM, necessitam ser avaliadas por outros especialistas para a realização de um diagnóstico diferencial e, portanto, cuidados específicos”, afirma a especialista.
Em todo o caso, é importante que o profissional especialista seja procurado logo para que seja feito um diagnostico e tratamento precoce, a fim de que o tratamento seja mais eficiente, e realizado em um período de tempo menor e com menos danos ao organismo.